08/11/2024

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Demência Frontotemporal: saiba mais sobre a doença de Bruce Willis

Com oferecimento de WeMEDS, saiba mais sobre o diagnóstico do ator.

Uma notícia tem chamado bastante atenção nos últimos dias: desde 2022, o ator Bruce Willis estava afastado pelo diagnóstico de afasia.

Em meados de fevereiro desse ano, a família anunciou que a doença rapidamente progrediu para o quadro de demência frontotemporal.

Entenda mais sobre essa doença neurodegenerativa, responsável por cerca de 5% de todas as síndromes demenciais.

Demência Frontotemporal: o que é?

A degeneração do lobo frontotemporal abrange um espectro de doenças neurodegenerativas focais, com atrofia progressiva dos lobos frontal e temporal. São condições clínicas heterogêneas, caracterizadas por disfunções sociais e alteração de personalidade, além de comprometimento da linguagem, funções executivas e motoras.

Dentre as apresentações clínicas, destacamos a demência frontotemporal, foco das últimas notícias da mídia.

A demência frontotemporal, também conhecida como Doença de Pick, é uma condição neurodegenerativa que cursa inicialmente com alteração do comportamento (desinibição). Progride com perda de capacidades cognitivas (amnésia, perda de reconhecimento, perda de raciocínio e julgamento, linguagem e destreza) e outros sintomas neurológicos, como incoordenação motora e afasia.

Tem início geralmente em pacientes com menos de 65 anos de idade, com idade média de acometimento de 58 anos. Alguns estudos mostram um aumento de incidência em todas as faixas etárias nos últimos anos, sendo mais evidente em pacientes próximos aos 70 anos – como é o caso do ator Bruce Willis, que hoje tem 68 anos.

bruce willis
Foto original disponível no anúncio oficial da família, em https://www.theaftd.org/mnlstatement23/

Como acontece?

A demência frontotemporal é uma doença com forte relação genética. Cerca de 40% dos pacientes que apresentam a doença tem casos de demência, doença psiquiátrica ou sintomas motores relatados na família. Ainda, 20% apresentam mutações já descritas, e a maioria herdada de forma autossômica dominante, com penetrância variável dependendo do gene.

A fisiopatologia vai depender da mutação que o paciente apresentar. No entanto, a base é a mesma – acúmulo de proteínas sem função.

mutação Demência Frontotemporal

As mutações mais conhecidas são:

  1. Mutações no gene MAPT, no cromossomo 17. Gene que codifica a proteína tau associada a microtúbulos.

Lembra da TAU? Já conhecida em doenças neurodegenerativas. São proteínas responsáveis por estabilizar a estrutura neuronal através dos microtúbulos para a informação ser transmitida. Como resultado das mutações, há acúmulo dessa proteína, e uma desorganização citoarquitetural do neurônio, levando à sua morte.

Macroscopicamente, há uma atrofia principalmente frontal e/ou temporal. Em exames de necrópsias, essas proteínas alteradas podem ser visualizadas e são chamadas de corpos de Pick.

As mutações no gene MAPT são de alta penetrância – ou seja, grande parte dos que apresentam a mutação também apresentam a doença. Isso também diminui as chances de encontrar casos de pacientes com essa mutação sem histórico familiar.

demencia frontotemporal
  1. Mutações no gene GRN, também no cromossomo 17.

Codifica a proteína progranulina, que tem papel na progressão do ciclo celular, crescimento neurítico, reparo de feridas e inflamação. As mutações nesse gene resultam em perda de função da proteína, que também se acumula (mas de forma “inútil”). Na neuroimagem, o padrão de atrofia é assimétrico, e tipicamente preservado dentro de uma família. A sobrevida média dos pacientes com essa mutação são de 9 anos.

  1. Mutação no gene C9ORF72, no cromossomo 19.

Causa mais comum da forma familiar da doença, e também é uma causa frequente de esclerose lateral amiotrófica. A mutação é um aumento de repetições de nucleotídeos “GGGGCC” no gene – indivíduos normais têm até 23 repetições, pacientes podem ter até 1600. Isso resulta em uma proteína sem função, e na formação de grânulos difusos que se depositam nas camadas corticais superficiais e profundas.

A sobrevida dos pacientes varia muito, de 1 a 22 anos, a depender da quantidade de repetições no gene.

Como identificar?

Diferente da Doença de Alzheimer, a demência frontotemporal acomete pacientes mais jovens, próximo de 60 anos de idade. Inicialmente, o paciente começa a ter condutas socialmente inadequadas, como desinibição sexual, grosseria, agitação, apresentando-se muitas vezes irritado.

Na evolução, há instalação de um quadro demencial, geralmente com outros achados neurológicos: afasia (dificuldade em se comunicar), apraxia (incoordenação de movimentos).

A classificação decorre de 2 apresentações clínicas principais:

  1. Variante Comportamental: Quadro clássico. Paciente apresenta inicialmente alteração do comportamento social, da personalidade; com desinibição, apatia, hipersexualidade, euforia.
  2. Afasia Primária Progressiva: O quadro inicial é de afasia (dificuldade em se comunicar) isoladamente. Alterações comportamentais são leves-moderadas.

O médico deve sempre se atentar para diagnósticos diferenciais. Uma anamnese completa, exame físico/neurológico e exames complementares são necessários.

A confirmação geralmente ocorre através de exame de imagem (TC ou RMN), com presença de atrofia frontotemporal + dilatação ventricular compensatória. Ainda assim, existem critérios que auxiliam no diagnóstico, como os Critérios propostos por McKhann (et al) de 2001.

Também é possível realizar o Mini Exame do Estado Mental (MINIMENTAL ou MMSE). É rápido e de fácil aplicação, e serve para avaliar a função cognitiva, estando alterado nas demências que acometem essa função.

Como tratar?

Não existem tratamentos que alterem a progressão do curso da doença, sendo o tratamento apenas sintomático.

O tratamento visa melhorar os sintomas do paciente, sendo incapaz de retardar a progressão da doença. Deve incluir equipe multidisciplinar com fisioterapia para tratamento de eventuais problemas motores.

Os medicamentos, com algum grau de evidência de eficácia, são direcionados para o tratamento de sintomas comportamentais. Inicia-se com antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina, e na sua refratariedade, opta-se por antipsicóticos atípicos (como risperidona, quetiapina).

Se quiser saber mais sobre a doença, acesse nosso app WeMEDS®. Disponível na versão web ou para download para iOS ou Android.

Referências:

A Statement from the Willis Family. February 16, 2023. https://www.theaftd.org/mnlstatement23/

Younes K, Miller BL. Frontotemporal Dementia: Neuropathology, Genetics, Neuroimaging, and Treatments. Psychiatr Clin North Am. 2020 Jun;43(2):331-344. doi: 10.1016/j.psc.2020.02.006. Epub 2020 Apr 8. PMID: 32439025.

Raghava Kurup Radhakrishnan, et al. BMJ Best Practice. Demência frontotemporal. Fevereiro 2023.

Pîrşcoveanu DFV, Pirici I, Tudorică V, Bălşeanu TA, Albu VC, Bondari S, Bumbea AM, Pîrşcoveanu M. Tau protein in neurodegenerative diseases – a review. Rom J Morphol Embryol. 2017;58(4):1141-1150. PMID: 29556602.

Balendra R, Isaacs AM. C9orf72-mediated ALS and FTD: multiple pathways to disease. Nat Rev Neurol. 2018 Sep;14(9):544-558. doi: 10.1038/s41582-018-0047-2. PMID: 30120348; PMCID: PMC6417666.

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